sábado, 31 de maio de 2008

Guarda Digital


Está disponível, a partir de hoje, o novo portal Guarda Digital. Fui fazer uma visita. O que vi agradou-me, embora se note que ainda há algum trabalho pela frente. Está organizado por sectores: notícias, directório regional, serviços, arte e cultura, pecados, desporto, jovens e uma galeria multimédia, para além dos destaques da página de entrada. Saliento, pela positiva, o segundo, que reúne informação relevante do sector dos serviços, comércio e indústria, profissões liberais, instituições, associações, etc. Nota positiva para a inclusão de um espaço onde podem ficar armazenados vídeos, fotografias e gravações audio sobre a região e também do link "Pecados": uma compilação de estabelecimentos e actividades lúdicas, incluindo as chamadas alternativas e de lazer. Dos 7 só estão representados a preguiça, a luxúria, a vaidade e a gula. Então e os outros? Será que a ira, a avareza e a inveja não são gente? Na ira poderiam ser incluídos alguns ginásios, na avareza estabelecimentos bancários e na inveja, lojas de telemóveis, por exemplo.

NOTA: já quanto à acídia, o caso é outro. Este atípico pecado capital foi "substituído", durante a Contra-reforma, pela preguiça. Bosch ainda o incluía, nos seus quadros, no cardápio das sete licenciosidades interditas. O termo significa, seguindo tradução canónica, tristeza pelo bem espiritual, acidez, queimadura interior do homem que recusa os bens do espírito. Como se vê, trocou-se uma coisa séria por um pecadilho menor. Porquê? Quis-se adequar a moral à ordem capitalista do trabalho? A tristeza, enquanto afronta à bem-aventurança eterna, é uma categoria demasiado subtil para ser sancionada liminarmente? Seja como fôr, com mais ou menos variantes, a acídia é a venialidade mais praticada na Guarda. Aqui sim, um pecado mortal.

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domingo, 25 de maio de 2008

Eu queria encontrar aqui ainda a terra

Foto: Tiago Rodrigues

À terceira é de vez. É já no próximo dia 28 que estreia a nova peça do Projéc~, uma produção do TMG para a Câmara Municipal da Guarda e Centro de Estudos Ibéricos. Trata-se do quinto trabalho da estrutura de produção teatral daquela instituição. O espectáculo é baseado no texto homónimo de manuel a.domingos e deste vosso criado. O qual procura situar vários encontros, intensos, irónicos e por vezes desconcertantes: da memória recente da cidade com dois passageiros ilustres: Eduardo Lourenço e Vergílio Ferreira; de duas gárgulas de granito que são o mesmo e o diferente, a matéria e o espírito; de duas personagens num ambiente exótico, cujas perguntas são maiores do que as respostas e estas provêm do inesperado. Encenação, dramaturgia, cenografia e figurinos de Luciano Amarelo. A interpretação está a cargo de Paulo Calatré e Pedro Frias. Em cena no Pequeno Auditório do TMG até 30 de Janeiro.

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

A vil tristeza

Na cidade mais alta do país, não existe um estabelecimento de venda de livros, uma biblioteca pública em funcionamento, um local onde se possa ouvir Jazz à noite. É precisamente numa cidade fria, mais perto das nuvens, que fazem sentido muitos livros, muito tempo solto, algum sobressalto, o desenrolar de um fio dourado que aponte para outras latitudes, outras temperaturas. Conservar o calor não é só um tema fisiológico ou arquitectónico. Vai muito para lá de um ecossistema inteligente. Precisamente porque um ecossistema inteligente precisa de livros. De cumplicidades. Do trompete de Miles Davis pela noite fora.

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terça-feira, 20 de maio de 2008

Imagens da Guarda

Torre de menagem (1056 m)
Zona do Bonfim

Rua do Comércio

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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Acordo ortográfico? A luta continua!


Este blogue está de luto. Tal como deveriam estar todos aqueles que amam a língua portuguesa e se sentem ultrajados com expedientes de realpolitik rasteira. Foi aprovado na A.R. o segundo protocolo do Acordo Ortográfico. A reboque dos interesses comerciais e diplomáticos do Brasil, meia dúzia de deputados acaba de trair oitocentos anos de história e o maior activo da cultura nacional, a língua. E fizeram-no contra a vontade da larga maioria do povo português e dos especialistas. Espero agora que todos eles, deputados, malacas casteleiros, carlos reis, pintos ribeiros, epifânios e os "multiculturalistas" de catálogo habituais, peguem na trouxa e vão passar umas férias ao país a quem fizeram o frete. Só com bilhete de ida, é claro! Este acordo irá levantar sérios problemas técnicos, científicos, sociais, económicos, que nunca foram discutidos publicamente com seriedade.
Pela parte que me toca, NUNCA irei escrever uma palavra que seja de acordo com a novilíngua sub-brasileira. Irei invocar - e já estou a trabalhar nisso do ponto de vista jurídico - o estatuto de objector de consciência. A desobediência civil estará na segunda linha. Uma coisa é certa: enquanto estiverem em funções ou forem candidatos os deputados que votaram a favor, nunca mais irei votar em eleições legislativas. É claro que vou apurar o nome de toda essa colecção de coliformes fecais nas actas da A.R.

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Blogosfera em debate no TMG

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Menos que zero

Finalmente, chegou ao seu termo mais uma "Semana Académica" na Guarda. Estive a ver o programa de festividades. Como devem calcular, surpreendeu-me a originalidade e o fino recorte dos eventos: Quim Barreiros, Enterro do Caloiro, Noite das Tunas, Desfile Académico, etc. Repare-se, nem sequer uma referência, por mais ténue que seja, a uma actividade onde apareçam os 40 anos do Maio de 68. Ora bem, nos dias que correm, uma academia em festa quer dizer, basicamente, o seguinte: para lá do limite, as urgências dos hospitais alerta com os níveis de alcoolemia; dentro do limite do embrutecimento alcoólico, muita "irreverência" e uma quantidade de virgindades, reais ou imaginárias, desaparecidas num combate tosco e, acredito, desajeitado (sim, porque até nestas coisas tem que haver classe, muita classe); os papás e as mamãs embevecidos com os rebentos pré dótores; os rebentos pré-dótores a fazerem contas ao medo do futuro que, por instantes, brilha no fundo de um copo de cerveja, mas que, por enquanto, deitam para trás das costas; a cidade maravilhada com tanta juventude em festa, tanta côr, tanto pólen volteando no ar, mas sem ninguém a apanhá-lo, a elevá-lo bem alto, a rodopiar com ele, acreditando nele, agarrando o trapézio, gritando aos quatro ventos: "Não! Isto pode ser de outra maneira! Isto pode ser de outra maneira"; as associações de estudantes, estruturas intermédias apaparicadas pelo poder, garantes de um ecossistema de vícios, facilitismos, vaidades, genuflexões presentes e futuras, quando chegar a hora, sim, por que tudo se paga, as tais que continuam a receber subsídios generosos para promover, impunemente, nos respectivos associados, um estado mental pré-cataléptico, uma acefalia mansa, bovina, com uns fuminhos, só uns fuminhos, de prevaricação, em datas certas, arrumadas dentro do espectáculo, adornadas com uma irresistível jovialidade, a exaltação de uma segunda oportunidade para o "bom selvagem", pensando naqueles que a falharam na infância, sim, o trocadilho é elementar, mas está a pedi-las: "as novas oportunidades", olha o elixir da má consciência, olha como a generosidade se expande, alastra como uma pandemia mental, esbarra com o entendimento nestas alturas de folias em rede, suscita uma irresistível vontade de emigrar, durante uma semana, para uma sonda submarina, um satélite, uma aldeia remota, um sítio qualquer onde ainda não abriu as portas nenhuma coisa que dê azo à criação de mais uma academia, ou seja, um pretexto para mais um electroencefalograma anual...

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terça-feira, 13 de maio de 2008

Imagens da Guarda

Rua da Torre

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segunda-feira, 12 de maio de 2008

Crohnicas da parochia

Há dias, num assomo de naïveté, questionei o facto de nunca ter sido convidado para escrever uma crónica na Rádio Altitude. O que motivou o episódio que na altura descrevi, aí encerrado. Acontece que, precisamente ontem, fui convidado para escrever um artigo no "Corta-Fitas", um dos blogues de maior audiência nacional. Porque será? Não me digam que na Guarda a qualidade dos cronistas é excedentária e num blogue constituído maioritariamente por jornalistas profissionais ela é deficitária! De qualquer modo, numa cidade onde o reconhecimento local do mérito é a excepção, ser cronista acaba por ser uma redundância. E é precisamente por ser uma redundância que existem tantos. Portanto, temos uma situação sui generis: o número de cronistas é inversamente proporcional à existência de matéria local para escrever crónicas. Isto seria divertido se acontecesse na Escandinávia, por exemplo, onde a míngua de notícias significa que as pessoas vivem felizes. Chegado a este ponto, confesso a minha predilecção: antes de pé e cronicável por um dia, pelos melhores motivos, do que de joelhos e croniquente a vida inteira.

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domingo, 11 de maio de 2008

Aqua criativa


Estreou no passado dia 5 no TMG o espectáculo de teatro infantil "Os Duendes do Lago". Inserido no projecto "Aqua criativa", do Serviço Educativo da instituição, irá manter-se em cena até dia 28. O texto é deste vosso criado, a encenação é de Élia Fernandes e a interpretação a cargo de Inês Mexia (com voz off de Américo Rodrigues). Conta ainda com música original de Victor Afonso e vídeo de Américo Figueiredo. Na altura em que escrevo este texto ainda não vi o espectáculo, tendo assistido, no entanto, a um ensaio, uns dias antes da estreia. A reacção das crianças e educadores tem sido, ao que julgo saber, entusiástica. Parabéns aos participantes. Termino com um apontamento pessoal e, quiçá, surpreendente. Escrever este texto foi o desafio mais difícil com que me deparei na criação de guiões para espectáculos teatrais. Escrevi várias histórias sucessivas, mas nenhuma delas me agradou. Só à quarta é que o resultado me satisfez. E em todo este processo houve um fascinante apelo de um regresso à infância. Não como um eldorado perdido, mas como um local onde, mesmo por trás da mais delirante fantasia, tudo acaba por ter um sentido.

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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nota

Exprimi aqui a minha estranheza por nunca ter sido convidado para fazer uma crónica para a Rádio Altitude. Na resposta, embora não tendo que o fazer, o seu director remeteu um simpático e cabal esclarecimento acerca do modo de funcionamento dessas crónicas. O qual, para além de agradecer, aceito sem reservas. O que implica, naturalmente e para encerrar a questão, a supressão do post original.

A longa marcha

Em dia de aniversário, é justo falar dos espectros e das correrias sem destino. Acerca dos primeiros, a transitoriedade da sua aparição assusta mais do que comove. O que está mal. É a razão febril mas ainda a razão. Muito mais do que a razão. Privada do oxigénio da esperança, quando a solidão real, fora de qualquer tentação lírica, bate nas vidraças, nesse ambiente rarefeito, acaba por reformular a sua lógica ferida à luz desse instantâneo. "O pior fez-se anunciar, portanto vou ter de abandonar o medo de ver o pior acontecer". Os aniversários são também lugares sem tempo, arrumados no meio da correria. Retomo aqui o que então escrevi por alturas do novo ano. "Algures na vida chega o lugar da gratidão. Por aqueles que nos amaram - poucos, após esticar o balanço com honestidade - por aqueles que não o souberam ou eu não soube, pelos erros que tão bem denunciaram o caminho, pelos outros que não passaram de hesitações, por aqueles que esperaram, divididos entre o orgulho e a queda, pelo consolo da ronda à volta do claustro, pelo fogo que triunfou, por vezes, no cume da insurreição e das sombras, pelas cinzas que foram ficando, pelos caminhos só ainda depois caminhos, pela assembleia de convidados que o vento trouxe e o vento dissipou, pelo orgulho que tudo rasgou, pelos céus de van gogh, pela poeira onde tudo se irá resumir. E brilhar."

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