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Menos que zero

Finalmente, chegou ao seu termo mais uma "Semana Académica" na Guarda. Estive a ver o programa de festividades. Como devem calcular, surpreendeu-me a originalidade e o fino recorte dos eventos: Quim Barreiros, Enterro do Caloiro, Noite das Tunas, Desfile Académico, etc. Repare-se, nem sequer uma referência, por mais ténue que seja, a uma actividade onde apareçam os 40 anos do Maio de 68. Ora bem, nos dias que correm, uma academia em festa quer dizer, basicamente, o seguinte: para lá do limite, as urgências dos hospitais alerta com os níveis de alcoolemia; dentro do limite do embrutecimento alcoólico, muita "irreverência" e uma quantidade de virgindades, reais ou imaginárias, desaparecidas num combate tosco e, acredito, desajeitado (sim, porque até nestas coisas tem que haver classe, muita classe); os papás e as mamãs embevecidos com os rebentos pré dótores; os rebentos pré-dótores a fazerem contas ao medo do futuro que, por instantes, brilha no fundo de um copo de cerveja, mas que, por enquanto, deitam para trás das costas; a cidade maravilhada com tanta juventude em festa, tanta côr, tanto pólen volteando no ar, mas sem ninguém a apanhá-lo, a elevá-lo bem alto, a rodopiar com ele, acreditando nele, agarrando o trapézio, gritando aos quatro ventos: "Não! Isto pode ser de outra maneira! Isto pode ser de outra maneira"; as associações de estudantes, estruturas intermédias apaparicadas pelo poder, garantes de um ecossistema de vícios, facilitismos, vaidades, genuflexões presentes e futuras, quando chegar a hora, sim, por que tudo se paga, as tais que continuam a receber subsídios generosos para promover, impunemente, nos respectivos associados, um estado mental pré-cataléptico, uma acefalia mansa, bovina, com uns fuminhos, só uns fuminhos, de prevaricação, em datas certas, arrumadas dentro do espectáculo, adornadas com uma irresistível jovialidade, a exaltação de uma segunda oportunidade para o "bom selvagem", pensando naqueles que a falharam na infância, sim, o trocadilho é elementar, mas está a pedi-las: "as novas oportunidades", olha o elixir da má consciência, olha como a generosidade se expande, alastra como uma pandemia mental, esbarra com o entendimento nestas alturas de folias em rede, suscita uma irresistível vontade de emigrar, durante uma semana, para uma sonda submarina, um satélite, uma aldeia remota, um sítio qualquer onde ainda não abriu as portas nenhuma coisa que dê azo à criação de mais uma academia, ou seja, um pretexto para mais um electroencefalograma anual...

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