segunda-feira, 30 de março de 2009

Os novos povoadores

"Em Portugal, 42% da população vive em 5% do território. Apenas 3,5% da população vive em cidades médias: Coimbra e Braga. Isto significa que 42% da população vive imobilizada sobre si e 54,5% da população no "interior profundo". Segundo dados da ONU, em 2015 a situação será ainda mais caótica: 69,2% da população portuguesa viverá nas duas áreas metropolitanas. Em Espanha, 25% da população vive em cidades médias, no total de 32." Estes números, que só não surpreendem quem não assiste a esta realidade, aqui bem no centro do chamado interior profundo, são revelados no blogue "Inovação & Inclusão". O qual funciona como porta-voz de um projecto recente, apoiado pela ANM, chamado "Novos Povoadores". Claro que, no século XXI já não existem as amnistias generalizadas para quem opte por viver nas áreas do "no man's land", nem forais prometendo benefícios e isenções fiscais, "propostas irrecusáveis" com que os reis da 1ª dinastia acenaram aos potenciais pioneiros. E não se pode encarar 2/3 do território nacional como um pacato e remoto "couto de hominizados". A ideia para o projecto surgiu a partir de três licenciados. Tem precisamente como objectivo obstar ao êxodo demográfico e de competências no interior. Promovendo a fixação de famílias constituídas por profissionais qualificados em algumas cidades médias, com boas acessibilidades, e cujas autarquias acolham o programa. Até agora, já houve 100 candidaturas e em Setembro irão ser instaladas as primeiras 25, em Abrantes. As novidades sobre o desenrolar deste projecto vão sendo actualizadas também na respectiva página do Twitter, que sigo. Ora, entre as cidades piloto do programa figuram, por exemplo Castelo Branco e Viseu. Sobre a Guarda, nenhuma menção. E não se julgue que esta afirmação é firmada em algum tipo de regionalismo atávico. As razões são outras. A desertificação é negativa para o país no seu todo e não só para o interior. Contra ela, não bastam as promessas sazonais dos políticos, nem a generosa captação de investimentos. É a proliferação de programas como este, pensados a médio prazo, sustentados e cujo retorno não se mede em cifrões, mas em níveis de qualificação e competitividade, que verdadeiramente pode fazer inverter a sangria demográfica do interior para o litoral. Projectos esses onde o princípio da discriminação positiva é encarado sem preconceitos e onde o apelo ao empreendorismo e à criação de know how são as palavras-chave. Só que, pelos vistos, ao alhear-se da iniciativa, o executivo da autarquia guardense parece continuar a definir como prioridades o betão e as grandes superfícies. Depois admirem-se que "isto", qualquer dia, "é só paisagem".

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segunda-feira, 23 de março de 2009

Riscos

(clicar para ampliar)

Livro-objecto. O conceito sempre me fascinou. Sobretudo quando a obra resultante faz jus ao nome. Não confundir com outra criação contígua, o "livro de autor". Neste caso, trata-se de uma obra única e irreproduzível, composta pelo seu criador de forma a fixar num só "objecto" várias linguagens e recorrendo às mais variadas técnicas, como a colagem, a ilustração, a gravura, a postagem. No caso do livro objecto, a co-autoria é mais óbvia, as possibilidades criativas são mais mplas, bem como a reprodutibilidade. Obviamente, estas características não são de todo rígidas, podendo mesmo haver obras que participam de umas e de outras. É grande pois a minha expectativa em relação ao "objecto" posto amanhá em circulação. Autores: Américo Rodrigues (textos), Zigud (fotogramas) e Jorge dos Reis (desenho gráfico). A edição é da associação Luzlinar. Será às 18 horas, no Café Concerto do TMG. Consultar aqui o contexto e os antecedentes. Seguir-se-á, pelas 21.30 h, a tertúlia cinéfila, com a exibição da curta-metragem "Um bando de passarinhos", de Zigud. O motivo de inspiração é comum ao livro. Ver aqui mais informação.

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quinta-feira, 19 de março de 2009

Curtas

1. Vale a pena ler uma entrevista que Paul Schrader deu ao jornal "Público", publicada no suplemento Y. O realizador (e, recorde-se, argumentista de obras marcantes como "Taxi Driver"e "Touro Enraivecido") deslocou-se ao nosso país em recentemente, no âmbito do Fantasporto. Com efeito, no encerramento deste festival, foi estreada entre nós a sua última produção, "Adam Ressurected", que espero ver em breve. Na ocasião foi galardoado e deu uma pequena conferência. Ver aqui a notícia. Schrader, como ele próprio refere, teve uma educação calvinista, que teve consequências visíveis nas questões morais que atravessam os seus filmes. Na entrevista, falou sobre o fim do cinema, da necessidade de os criadores tirarem partido das novas tecnologias e não oporem-se a elas, da urgência do recurso massivo a novas formas de retorno do investimento no produção cinematográfica, que não passem só pela exibição em salas. O realizador lembra que hoje é possível fazer filmes com orçamentos cada vez mais reduzidos, graças a meios técnicos mais acessíveis, mas que a multidão de novos criadores do cinema indy americano não sabe ainda tirar partido disso.
2. Os dados estão lançados. Pelos vistos, a próxima batalha autárquica na Guarda vai ser travada entre Crespo de Carvalho, pelo PSD, e o actual presidente da câmara, Joaquim Valente, pelo PS. O resto, vão-me perdoar, não conta. A escolha do candidato social-democrata foi algo conturbada. Uma leitura atenta de "O Príncipe", de Maquiavel, tornaria perceptível os contornos e os saltos de gazela neste processo. Quanto à presença de Valente, seria mais do que natural. Embora pudesse ter gerido de outra forma certos dossiers mais estruturantes para a cidade, o seu mandato pareceu-me ser globalmente positivo. Para além de ser uma pessoa educada e cordata, o que não é de desconsiderar. O candidato do PSD é para mim um perfeito desconhecido. Sei que é empresário, coleccionador de arte e dinamiza o grupo de Amigos do Museu da Guarda. E é tudo.

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quinta-feira, 12 de março de 2009

Mais teatro


Estreia no dia 18, mantendo-se em cena até 20, no Pequeno Auditório do TMG. A encenação é de José Neves, com interpretação de Nuno Cardoso. A peça é baseada no texto homónimo de Javier Tomeo, "Amado Monstruo", traduzido por José Bento. Do autor, para quem não sabe licenciado em Direito e Criminologia, só conheço a peça "O Castelo da Carta Cifrada", com edição da Caminho, que li há uns anos. Do Zé Neves só posso dizer que estou ansioso por ver a sua primeira encenação no activo (pelo menos, de que tenha conhecimento), pondo de parte o seu trabalho final apresentado numa edição do projecto Inside Out, há três anos, iniciativa na qual também participei. Trata-se da sétima produção da estrutura de produção teatral do TMG, o Projéc~. Consultar aqui mais informação.

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terça-feira, 10 de março de 2009

Cineclube

Boas notícias. Durante a semana passada fui designado como novo Presidente da Direcção do Cineclube da Guarda. Em simultâneo, foram nomeados mais dois elementos para aquele órgão. Preenchendo assim os lugares que vagaram até final do mandato. A ideia é continuar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e, se possível, alargar a divulgação de cinema a novos espaços e novos públicos. Sem esquecer, naturalmente, as finalidades específicas do cineclubismo.

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terça-feira, 3 de março de 2009

A nova identidade virtual

Estou agora a descobrir as potencialidades do Twitter, o novo blockbuster das redes sociais. A plataforma funciona como um alimentador de feeds, gerados entre subscritores registados. A ferramenta popularizou-se tal forma que hoje se tornou o grande acontecimento de massas da web 2.0. No entanto, ainda tenho algumas dificuldades em adaptar-me a uma novilíngua instantânea, limitada a 140 caracteres, onde o narcisismo se torna mais visível do que na blogosfera. No fundo, o Twitter é a versão geek dos diários e cadernos de notas que muitos de nós já manteve durante periodos da sua vida. Só que, se antes o destino era a gaveta, agora são comunicados em tempo real e potencialmente globalizados. Uma situação próxima da "Zona de Autonomia Temporária", do visionário Hakim Bey. Ou seja, uma estrutura comunicacional aberta, alternativa e horizontal, suporte da Rede. Mas há que ter algum cuidado. Há quem confunda o Twitter com o Hi5 ou com um chat. Por isso mesmo, há que ter um certo cuidado nos links que se cruzam. No entanto, continuo a pensar que esta plataforma, se pode fomentar a troca e o enlace de afinidades, não substitui a comoção de uma paisagem ou de um gesto, do que é indizível por natureza.

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Jornal Cidade Mais
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