O teatro dos sonhos
1. Lusco fusco é um termo bem curioso, hermético e intraduzível quanto baste. Daqueles que põe a cabeça em água a um aprendiz da nossa língua, ou a alguém pouco familiarizado com ela . À primeira vista, assemelha-se mais a uma palavra romena ou, até mesmo, a uma cidade azteca. Tecnicamente, designa o período do crepúsculo nocturno. Todavia, parece prolongá-lo, estendê-lo amorosamente, até ao momento em que o dia se faz noite. Uma transição celebrada por poetas, músicos e entusiastas do sobrenatural. E que, embora seja tradicionalmente associada a um fim épico, também pode evocar o início de um ciclo. Ou seja, uma espécie de "raio verde" da luminosidade, onde o encantamento, o desejo ou a invocação formulada se podem prolongar, ao invés do que acontece no momento em que o último raio solar repousa sobre a terra.
2. A Associação Luzku-Fuzku é uma comunidade que desenvolve acções de ordem ambiental, holístico e inclusivo. Está sedeada na Quinta do Dionísio, junto à povoação dos Trinta, concelho da Guarda. Num local privilegiado, o que é dizer pouco. Ou seja, num recanto verdejante do curso do Mondego superior, a montante do açude do Pateiro, ladeado de catanheiros e choupos. No âmbito do projecto "Ecompanhamento", com início em 2008, promoveu a construção orgânica de um "Teatrinho em Fardos de Palha", para além de várias casas de banho e chuveiros ecológicos, de um Yurt e de um retiro em barro. Ora, esse pequeno teatro foi inaugurado no domingo, recebendo a designação de "Salamandra". O programa incluía um percurso pedestre, lanche, tertúlia e uma sessão musical, a cargo de Gustavo Delgado e João Pedro Delgado nos violinos. A actividade teve o apoio do TMG. O edifício, com cerca de 12 m de comprimento e 3 de largura máxima, foi construído com materiais orgânicos: palha, madeira e barro. As paredes são de palha e, no topo, de ripas de madeira. Logo que o vigamento do telhado esteja assente, a palha será rebocada com uma camada de barro, o que melhorará muito a acústica. No lado que dá para o rio, há várias aberturas que fazem lembrar as vigias de uma embarcação. O tecto, muito parecido com o das pequenas igrejas nórdicas medievais, é formado por placas de madeira sobrepostas. No topo do espaço destinado ao palco há um pequeno vitral. Por sua vez, os espectadores, sentados em fardos de palha com um saco de serapilheira em cima, estão dispostos ao longo das paredes, frente a frente. Embora pensado como teatro, o espaço terá, naturalmente, uma utilização polivalente. Podendo servir, para além de outros espectáculos, como local de reuniões, ateliers, projecção de audiovisuais, etc.
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