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Crónicas da paróquia

Hoje fui almoçar a um local bem popular na Guarda. Agrada-me o sítio. Sobretudo pela qualidade da comida, pela decoração e ar vetusto. Mas no melhor pano cai a nódoa. Um feudalismo viscoso insinua-se no tipo de tratamento que é dado à clientela. Predomina a subserviência, medida pela "importância" dos comensais. Uma avaliação tão duradoura como o segundo mandato de Nixon, diga-se de passagem. Feita, ainda por cima, com requintes pícaros, à maneira popular: "este é o senhor dotor, mas no final vai desembolsar como gente grande!". É o farejamento e lambimento canídeo dos "dotores", dos influentes, do fulano de tal empregado na Câmara, que "nunca se sabe, ainda nos pode ser útil", dos sacos de ego portáteis, do "xenhor" Y do banco, "então e que tal, estava bonzinho?", mais uma lambidela, cheeeelp! e por aí adiante... Alguns dos senhores dotores são dos maiores filhos da puta lambe-botas com que já me deparei algum dia. Mas agarrados ao arrozinho, ou de volta das entradazinhas, são mesmo uns amorzinhos!... Claro que adoro ir a este local. Nem que mais não seja, porque é um mostruário do socialite guardense. Saio de lá sempre inspirado. E sabem que mais? Lá sou tratado com uma deferência natural, sem excessos deletérios, nem bajulações invasivas. Não estou na classe dos importantes, nem dos "dotores e engenhêros", nem dos mangas de alpaca sazonais. Sou o "gajo esquisito do teatro e dos jornais", que "escreve umas coisas e é melhor que não seja sobre nós", "vai lá almoçar sempre com uma gaja diferente". Portanto, "o melhor é tratá-lo bem", antes que, nunca se sabe... "antes que o chamemos também por dotôr"...

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