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3 histórias no 25

Já quase a fechar o pano de mais um 25 de Abril, espaço ainda para três notinhas de rodapé. Uma tem abertamente a ver com o facto histórico, outra assim assim, e a restante é à vontade do freguês.

1. Temos a tal definição de Sophia de Mello Breyner sobre o socialismo: uma aristocracia para todos. Claro que me agrada. E de que maneira! Até parece que o Nietszche anda por ali a espreitar. Percebe-se onde a poetisa queria chegar. Neste ponto, parece que as grandes proclamações revolucionárias e a grande poesia vão no mesmo sentido. Até a célebre "Conspiração dos iguais", com Babeuf à frente, - um dos episódios mais obscuros, embora mais empolgantes, da revolução Francesa -, não desdenharia transportar este estandarte. Mesmo que misturado com as cabeças dos aristocratas propriamente ditos espetadas em paus. No entanto, se na definição do bem comum é imprescindível abrir um espaço para a igualdade, a superação do paradoxo do slogan em causa requer alguns cuidados de interpretação. Sobretudo tratando-se de um céptico cada vez mais distópico, como é o caso do escriba. Ou seja, aristocracia acessível a todos, sim senhor! Mas que uma preocupação de igualdade não crie, ela própria, desigualdades, distorções, injustiças. E aí é necessário introduzir um peso fundamental na balança: o mérito. Talvez o aforismo de Sophia traduza a libertação do ter, para se poder ser plenamente. Talvez. E também acredito que ela não desconhecia que esse é o início. O início de uma história onde nada está garantido. A não ser o futuro.
2. Hoje tive a suprema felicidade de assistir, no Grande Auditório do TMG, ao espectáculo com os grupos "Cramol" e "Angelite". Dois coros femininos, sendo o último de vozes búlgaras. A sessão assinalou o 4º aniversário do Teatro Municipal da Guarda e constituiu, em meu entender, o grande momento musical desta temporada. A palavra inesquecível é pouco, nestas alturas.
3. Há três meses atrás, perdi um dispositivo de memória flash, mais conhecido por pen. Na altura, bem me cansei de procurar. Até telefonemas para locais prováveis de esquecimento fiz! O caso não era para menos, pois estavam lá documentos bastante importantes e, ainda por cima, únicos. Resolvi esquecer o assunto. Hoje à tarde, quando atravessava uma rua central da cidade onde vivo, notei um objecto vagamente familiar, entalado numa ranhura entre duas pedras de calçada. No entanto, prossegui o meu trajecto. Já do outro lado da rua, com uns trocos na mão para comprar o jornal, um assomo de curiosidade insatisfeita fez-me vacilar. Voltei atrás. E pus-me a rondar. Após várias tentativas, por aproximação, e já com alguns basbaques à perna, dei novamente com a "coisa". Desta vez, observei melhor. Percebi logo o que era. Retirei então o objecto da ranhura e qual não foi o meu espanto quando percebi que, para além de ser uma pen, era de um modelo igual à que tinha perdido! Faltava o teste final: limpá-la e instalá-la numa porta USB. No trajecto até casa, ainda coloquei a hipótese de tudo aquilo ter sido fruto do acaso. Ou mesmo de existir uma espécie de "Bookcrossing" com mensagens deixadas em canetas de memória "esquecidas" na rua. Uma modalidade que eu ainda desconhecia... Mas não... Afinal era MESMO a tal pen, desaparecida em combate há três meses! E que tinha decerto deixado cair do casaco antes de entrar no quiosque dos jornais. E que graças a um Inverno sem chuva se conservou! Em suma, que bela história!

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