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Os novos povoadores

"Em Portugal, 42% da população vive em 5% do território. Apenas 3,5% da população vive em cidades médias: Coimbra e Braga. Isto significa que 42% da população vive imobilizada sobre si e 54,5% da população no "interior profundo". Segundo dados da ONU, em 2015 a situação será ainda mais caótica: 69,2% da população portuguesa viverá nas duas áreas metropolitanas. Em Espanha, 25% da população vive em cidades médias, no total de 32." Estes números, que só não surpreendem quem não assiste a esta realidade, aqui bem no centro do chamado interior profundo, são revelados no blogue "Inovação & Inclusão". O qual funciona como porta-voz de um projecto recente, apoiado pela ANM, chamado "Novos Povoadores". Claro que, no século XXI já não existem as amnistias generalizadas para quem opte por viver nas áreas do "no man's land", nem forais prometendo benefícios e isenções fiscais, "propostas irrecusáveis" com que os reis da 1ª dinastia acenaram aos potenciais pioneiros. E não se pode encarar 2/3 do território nacional como um pacato e remoto "couto de hominizados". A ideia para o projecto surgiu a partir de três licenciados. Tem precisamente como objectivo obstar ao êxodo demográfico e de competências no interior. Promovendo a fixação de famílias constituídas por profissionais qualificados em algumas cidades médias, com boas acessibilidades, e cujas autarquias acolham o programa. Até agora, já houve 100 candidaturas e em Setembro irão ser instaladas as primeiras 25, em Abrantes. As novidades sobre o desenrolar deste projecto vão sendo actualizadas também na respectiva página do Twitter, que sigo. Ora, entre as cidades piloto do programa figuram, por exemplo Castelo Branco e Viseu. Sobre a Guarda, nenhuma menção. E não se julgue que esta afirmação é firmada em algum tipo de regionalismo atávico. As razões são outras. A desertificação é negativa para o país no seu todo e não só para o interior. Contra ela, não bastam as promessas sazonais dos políticos, nem a generosa captação de investimentos. É a proliferação de programas como este, pensados a médio prazo, sustentados e cujo retorno não se mede em cifrões, mas em níveis de qualificação e competitividade, que verdadeiramente pode fazer inverter a sangria demográfica do interior para o litoral. Projectos esses onde o princípio da discriminação positiva é encarado sem preconceitos e onde o apelo ao empreendorismo e à criação de know how são as palavras-chave. Só que, pelos vistos, ao alhear-se da iniciativa, o executivo da autarquia guardense parece continuar a definir como prioridades o betão e as grandes superfícies. Depois admirem-se que "isto", qualquer dia, "é só paisagem".

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Caros amigos do Blogue Guarda Nocturna:

Antes de mais, deixem-me felicitá-los pelo excelente trabalho desenvolvido neste blogue.

O que me traz aqui é uma problemática já bastante discutida em vários blogues, cujos artigos (de excelente qualidade) têm muitas vezes sido postados por mim e pelo coordenador, António Almeida Felizes, no blogue Regionalização (regioes.blogspot.com).

Desde há algum tempo, tenho vindo a ser um colaborador regular desse blogue, debatendo a questão da Regionalização pela perspectiva da Beira Interior, já que tantas vezes a voz das pessoas desta região é abafada e esquecida.

O encerramento de escolas e de estações e linhas ferroviárias, a tentativa de encerramento de maternidades e de colocação de portagens nas nossas auto-estradas, o mísero estado em que se encontram algumas das nossas estradas, o isolamento, o abandono, a migração e a emigração, a desertificação, e os poucos apoios à nossa região, têm sido verdadeiros cavalos de batalha pelos quais tenho lutado nesse blogue, na tentativa de evitar uma verdadeira pilhagem à nossa região, que os governantes parecem querer ver como terra de ninguém, e que é olhada como o parente pobre de Portugal.

Muito se tem falado no PNOT (Plano Nacional de Ordenamento do Território), talvez com a esperança de que este traga algum desenvolvimento para a nossa região. Desenganemo-nos. Olhemos para o que diz o relatório deste polémico plano:

"O reconhecimento de que a Area Metropolitana Lisboa é o principal espaço de internacionalização competitivo de Portugal. pemite ter expectativas que será na Região de Lisboa que deveráo ser concentradas as principais acções e medidas que reforcem esse papel a nivel europeu e mundial.

Sem descurar a preocupaçáo com o desenvolvimenlo harmonioso das restantes regióes do pais que complementaráo essa competitividade e náo entraráo em competição/anulação desse designio, ou desenvolverão outras apeténcias, como o caso do Turismo no Algarve."

Conclusão: Mais uma vez, seremos tratados como portugueses de segunda. De segunda, não. De terceira, porque, para além de não sermos de Lisboa, também não somos do Litoral.

A Beira Interior, ao contrário do que nos querem impingir, não é uma região morta. Antes pelo contrário. Temos tudo para dar certo como região.

Vejamos:

*estamos numa posição estratégica a nível Ibérico (no centro do triângulo Lisboa-Porto-Madrid), o que é um factor determinante para a atracção de investimento industrial e comercial;
*estamos servidos por duas das principais auto-estradas portuguesas, a A23 e a A25 (que constituem duas das principais rotas ibéricas e europeias, a E80 e a E802), e por duas importantes linhas férreas (embora necessitem de manutenção), a da Beira Alta e a da Beira Baixa;
*temos possibilidades de ter uma agricultura de baixos custos, mas boas produções de qualidade (veja-se o que acontece nas vizinhas regiões espanholas de Castilla y León e da Extremadura);
*temos uma universidade, das mais conceituadas do país, e que forma profissionais com boas qualificações para enfrentar o mercado de trabalho, e entrar em projectos inovadores para a região e para o país;
*temos um espírito de cooperação e associativismo único no país (de que é exemplo a existência de blogues locais e regionais como o este, que nas regiões do litoral quase não existem ou são de inferior qualidade);
*temos um eixo urbano com condições para evoluir e se consolidar, o eixo Guarda-Covilhã-Castelo Branco, com cidades de dimensões idênticas, o que evita que numa região da Beira Interior haja dominância ou centralismo de qualquer uma delas (por isso defendo a distribuição dos serviços regionais pelos diversos concelhos da região, ou seja, a inexistência de capitais regionais);
*temos um turismo em franco desenvolvimento, principalmente na Serra da Estrela, e temos pólos turísticos únicos a explorar, nomeadamente as Aldeias Históricas, os centros históricos das cidades, os castelos, e o turismo de natureza (parques naturais da Malcata e do Douro Internacional, serras da Gardunha e da Estrela, vales do Tejo, Côa, Mondego e Zêzere);
*temos condições para investir na produção de energias, principalmente através de fontes renováveis (eólica, hídrica e solar), e podemos facilmente tornar-nos auto-suficientes em termos energéticos e hídricos;
*somos, reconhecidamente, uma das regiões onde há maior qualidade de vida no país;
*como região a necessitar de investimento, somos uma das regiões da União Europeia a 15, com possibilidades de receber mais apoios comunitários, o que, conjuntamente com os fundos nacionais, torna a Beira Interior numa região perfeitamente viável, desde que se tome à partida um rumo definido de desenvolvimento e convergência com as restantes regiões da Península Ibérica e da Europa.

Porém, nas últimas décadas, apenas temos ficado com as "migalhas":

*estando inseridos num país profundamente centralista e centralizado como é Portugal, temos sofrido com o facto de estarmos muito longe de Lisboa para sermos ouvidos.
*por outro lado, sofremos também com o facto de termos sido colocados numa região-plano (Centro), onde não temos voz, nem peso, perante um Litoral constituído por concelhos como Coimbra, Aveiro, Figueira da Foz, Leiria, e mesmo Viseu, entre outros, que vive uma realidade muito diferente e não percebe as necessidades da Beira Interior. Por outro lado, os fundos que a Europa destina às regiões menos desenvolvidas, e que, sendo destinados à Beira Interior, vão parar à entidade gestora (CCDR-C), em Coimbra, são continuamente desviados para investimentos no Litoral, ficando, mais uma vez, o Interior bastante prejudicado.

Deste modo, nos últimos anos:

*enquanto à volta de Lisboa, e no Litoral, na década de 1980 e 1990, se construíram auto-estradas, aqui no Interior ficámos à espera para depois sermos servidos por estradas de segunda (IP's). Só com 20 anos de atraso chegaram as auto-estradas;
*enquanto no Litoral se reformularam as linhas férreas, e se introduziram novos serviços, no Interior continuamos a ter comboios como há 30 anos;
*enquanto no Litoral se deram incentivos ao investimento, e se promoveu a instalação de novas empresas, ninguém fez nada pelo Interior, apesar de este estar, como já disse, numa posição estratégica;
*o Interior nunca foi alvo de políticas específicas de desenvolvimento, nem de discriminação positiva (impostos mais baixos, incentivos à fixação de pessoas e empresas, e à natalidade; etc.). Antes pelo contrário, foram encerradas escolas, urgências, e serviços ferroviários, não se vislumbrando melhorias a curto/médio prazo.

Em suma, não se vislumbra grande futuro para a Beira Interior com a continuidade deste estado de coisas, nem sem regionalização, nem com a inclusão da nossa região no Centro.
As vantagens de uma regionalização são inúmeras e bastante notórias. Para tal, convido todos a consultar o blogue "regioes.blogspot.com", onde este tema tem sido amplamente debatido.
Penso que está na hora de a Beira Interior se autonomizar, e encetar finalmente um caminho de desenvolvimento pleno, que maximize o potencial desta nossa região, e acabe de vez com o nosso isolamento secular, tornando-nos uma região competitiva e de futuro, permitindo o regresso de todos aqueles que se viram obrigados a daqui sair, e evitando que os jovens da nossa região se vejam obrigados a (e)migrar em busca de um futuro melhor.
Para isso estou, em conjunto com alguns colabordores do blogue, a propor um mapa de 7 regiões para Portugal Continental, que serão as seguintes:

*Entre-Douro e Minho;
*Trás-os-Montes e Alto Douro;
*Beira Interior;
*Beira Litoral;
*Estremadura e Ribatejo;
*Alentejo;
*Algarve

Gostaria de saber a opinião de todos os guardenses, e da população em geral, sobre esta temática.

Para mais informações sobre a referida proposta, deixo aqui alguns links a consultar:

http://regioes.blogspot.com/2009/01/proposta-das-7-regies.html

http://regioes.blogspot.com/2009/01/7-regies-de-portugal-beira-interior.html

http://regioes.blogspot.com/2009/01/esclarecimentos-de-um-regionalista.html

Todas as opiniões são bem-vindas, numa discussão que se quer responsável e abrangente, em busca da melhor solução para a nossa região e para o país. Para que deixe de haver portugueses de primeira e de segunda.

Cumprimentos,
Afonso Miguel

Caro António Godinho Gil:

Dada a temática abordada, tomei a liberdade de publicar este seu “post”, com o respectivo link, no blog Regionalização
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http://regioes.blogspot.com
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Cumprimentos
Afonso Miguel

Agradeço a menção e o comentário. No geral, estamos de acordo quanto à macrocefalia e às assimetrias no ordenamento e na repartição da riqueza e do investimento. No entanto, divergimos quanto às soluções. Continuo a pensar que a regionalização é uma panaceia. Pelo menos, o modelo que foi chumbado no referendo há dez anos e que agora pretendem reeditar. Sobre o assunto já por diversas vezes me pronunciei. Quer do ponto de vista administrativo, político, económico ou demográfico, a regionalização, tal como é defendida pelos lobbies, nada vai resolver. Vai criar uma instância burocrática intermédia, onde vão prosperar tiranetes locais e pessoal político desempregado. No caso da "Beira Interior", nunca concordei sequer com a designação. A Beira Baixa e a Beira Alta são distintas sob todos os pontos de vistas. O conceito, que pretende aglutinar pobres com pobres, duas regiões tão diversas, só serve os interesses centralistas da Covilhã, como já toda a gente já percebeu.

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