Já é muito bom, mas...(2)
Ainda a propósito da abertura de uma livraria Bertrand na Guarda, até ao final deste ano, ocorrem-me algumas reflexões complementares.
1. Começando pelos antecedentes. Nos anos 80 e princípios de 90, salvo erro, funcionou durante algum tempo uma excelente livraria nesta cidade, na Rua Mestre de Avis. Implantada num espaço lindíssimo, dispunha, para além dos blockbusters, de um fundo bibliográfico notável. Estando representadas, em abundância, as chamadas editoras marginais. O projecto, único na Guarda, acabou por soçobrar. Neste momento, existem dois locais na cidade onde se poderão adquirir livros, para além do Modelo: a papelaria Guarda Conta e o prestimoso estabelecimento que, durante tanto tempo, foi ponto de referência para quem lia: a papelaria do Sr. Felisberto. E é tudo.
2. Por outro lado, será que alguma entidade residente, pública ou privada, se deu ao trabalho de elaborar um estudo estatístico acerca dos hábitos de leitura da população residente? A Câmara Municipal não tem especialistas e sociólogos em abundância? Se as sumidades andam ocupadas, porque não encomendar esse estudo a uma empresa? E a Biblioteca Municipal? Não deveria, neste ponto, assumir as suas responsabilidades, em vez de se comportar como um simples departamento onde o que não interessa é levantar ondas? Ora, ou muito me engano, ou esse estudo permitiria tirar conclusões surpreendentes: que existem, afinal, hábitos de leitura na Guarda; que existe um mercado para os livros; que só faltava arrumar as várias categorias que compõem a procura. Quando participei na organização da primeira feira do livro a sério na Guarda, em 2002, estive particularmente atento ao tipo de títulos vendidos. E anotei dados surpreendentes; a enorme procura de edições sobre plantas, medicinas naturais, portofólios, monografias, ensaio, crónicas reunidas de autores com alguma notoriedade por via dos media, etc.
3. Convém ainda esclarecer o óbvio, embora muitos se esqueçam: a Bertrand é uma empresa privada. Mesmo comercializando livros, não deixa de se comportar como qualquer entidade empresarial: responder à oferta e, de preferência, exponenciá-la, ganhando com isso. Não se espera que tome a seu cargo aquilo que pertence às atribuições típicas de determinadas instituições públicas, no âmbito educativo e autárquico. Para concluir, apetece-me dizer que a Guarda não é Hay on Wye *. Mas podia, no mínimo, aspirar sê-lo. Aceitam-se contributos.
* vila no País de Gales, conhecida por ser o maior centro de livros usados e albergar a maior concentração de alfarrabistas do planeta. É igualmente famosa pelo seu festival literário anual, que congrega autores e público provenientes das mais variadas origens.
1. Começando pelos antecedentes. Nos anos 80 e princípios de 90, salvo erro, funcionou durante algum tempo uma excelente livraria nesta cidade, na Rua Mestre de Avis. Implantada num espaço lindíssimo, dispunha, para além dos blockbusters, de um fundo bibliográfico notável. Estando representadas, em abundância, as chamadas editoras marginais. O projecto, único na Guarda, acabou por soçobrar. Neste momento, existem dois locais na cidade onde se poderão adquirir livros, para além do Modelo: a papelaria Guarda Conta e o prestimoso estabelecimento que, durante tanto tempo, foi ponto de referência para quem lia: a papelaria do Sr. Felisberto. E é tudo.
2. Por outro lado, será que alguma entidade residente, pública ou privada, se deu ao trabalho de elaborar um estudo estatístico acerca dos hábitos de leitura da população residente? A Câmara Municipal não tem especialistas e sociólogos em abundância? Se as sumidades andam ocupadas, porque não encomendar esse estudo a uma empresa? E a Biblioteca Municipal? Não deveria, neste ponto, assumir as suas responsabilidades, em vez de se comportar como um simples departamento onde o que não interessa é levantar ondas? Ora, ou muito me engano, ou esse estudo permitiria tirar conclusões surpreendentes: que existem, afinal, hábitos de leitura na Guarda; que existe um mercado para os livros; que só faltava arrumar as várias categorias que compõem a procura. Quando participei na organização da primeira feira do livro a sério na Guarda, em 2002, estive particularmente atento ao tipo de títulos vendidos. E anotei dados surpreendentes; a enorme procura de edições sobre plantas, medicinas naturais, portofólios, monografias, ensaio, crónicas reunidas de autores com alguma notoriedade por via dos media, etc.
3. Convém ainda esclarecer o óbvio, embora muitos se esqueçam: a Bertrand é uma empresa privada. Mesmo comercializando livros, não deixa de se comportar como qualquer entidade empresarial: responder à oferta e, de preferência, exponenciá-la, ganhando com isso. Não se espera que tome a seu cargo aquilo que pertence às atribuições típicas de determinadas instituições públicas, no âmbito educativo e autárquico. Para concluir, apetece-me dizer que a Guarda não é Hay on Wye *. Mas podia, no mínimo, aspirar sê-lo. Aceitam-se contributos.
* vila no País de Gales, conhecida por ser o maior centro de livros usados e albergar a maior concentração de alfarrabistas do planeta. É igualmente famosa pelo seu festival literário anual, que congrega autores e público provenientes das mais variadas origens.
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