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Mais uma campanha alegre (1)

Os aprendizes de cacique com discurso provinciano são uma das minhas iguarias favoritas. É claro que não é difícil encontrá-los. Basta ir ao seu habitat natural: uma delegação partidária, uma direcção de uma associação de estudantes, à saída de uma assembleia municipal, no corropio famélico em busca de uma assessoria ou de uma sinecura partidária. Alguns podem mesmo ser encontrados nas colunas dos jornais locais. Depois de muito suor, conseguem alinhar dois parágrafos sem um único erro ortográfico. Um feito notável. Onde debitam resma e meia de lugares comuns para encher o olho (salvo seja) à populaça, naturalmente sequiosa de mais uns artistas que a salvem. Porém, há artistas e artistas. Alguns nem mesmo numa loja gourmet se encontrariam. Pois a fortuna veio em meu auxílio, trazendo-me o créme de la créme desta espécie. Nada mais nada menos do que a última estrela da política de veludo guardense (na feliz designação de Pacheco Pereira para a rede de interesses promíscuos de que se nutre a partidocracia local e autárquica), o apóstolo da nova trilogia: ouvir, dialogar, trabalhar (a parte do "diálogo" traz-me logo à memória não sei o quê, um dejá vu qualquer...bom... adiante!), a grande esperança do PS no distrito da Guarda, o homem que não deixa de frisar que está perto de Lisboa (ouviram bem, meninas e meninos, perto de Lisboa!)... Senhoras e senhores, convosco o camarada José Albano Marques!
I - Comecemos então pelo princípio: sabiam como é que este patusco conseguiu as assinaturas para se candidatar à Federação Distrital? Através do milagre do sangue comunitário. Passo a explicar. Desde Janeiro deste ano, entre os 400 novos militantes do distrito da Guarda inscritos no PS , contam-se "trinta dadores de sangue" e apareceram 18 "a morar na mesma casa". Em relação ao primeiro caso, vamos supor que uma onda de generosidade invadiu 30 cidadãos, que decidiram acampar junto à sede da associação de dadores, disponíveis para qualquer emergência. No entanto, desconheço se foram informados do facto de entre cada dádiva deverem decorrer três meses para os homens e quatro para as mulheres. Mesmo assim, louva-se a sumptuosa solidariedade manifestada por estes bravos. No segundo caso, das duas uma: ou esse grupo de 18 intrépidos cidadãos têm o mesmo grupo sanguíneo e resolveram acampar no mesmo local, para o que desse e viesse; ou são adeptos das experiências comunitárias anos 60 e 70, resolvendo implantá-las num recanto serrano da Beira, podendo tratar-se mesmo de um grupo de squatters criativos, também conhecidos por okupas, acabados de desembarcar num prédio devoluto da região. Mas porquê?, perguntareis vós. Aa razões não são exactamente deste mundo, meus caros: 400 cidadãos, em diferentes coordenadas GPS, receberam em simultâneo uma radiosa e inefável revelação do Divino. Era o Albano, envolto numa aura celestial cor de rosa, assessorado por um arcanjo menor, que servia de ponto. Insinuando a salvação eterna, lá ia indicando aos incréus o caminho da virtude e do futuro, ao mesmo tempo que disponibilizava a ficha de inscrição na congregação. "Milagre! Milagre!", gritavam os escolhidos pela Graça Divina. "Quando preencherem a fichinha, entreguem aqui ao Tony", ouviu-se sussurrar, por fim, com voz melíflua, o ditoso Albano. Por outro lado, 40 dos recém filiados militantes deram como "residência" o mesmo apartado postal, sendo os apartados mais vezes repetidos registados como pertencentes à Associação de Dadores de Sangue da Guarda e ao PS de Celorico da Beira. Para explicar este caso, aplicam-se as hipóteses referidas, podendo ainda tomar-se em consideração outras possibilidades: estes 40 "caloiros" afinal fazem parte de uma seita milenarista, tendo optado por cometer um suicídio em massa, aproveitando os bons ares da região; constituem um grupo de investigadores da lagarta dos pinheiros em trabalho de campo; um retiro espiritual de representantes do príncipe da Transilvânia, mais conhecido como o Drácula dos tótos; são simplesmente clones (ou hologramas) de José Albano Marques.
II - Pois bem, instalados e domiciliados os putativos apoiantes do Albano (seriam todos do tipo O, tipo AB? não se sabe) faltava o corropio habitual para a contagem das espingardas: 1º cativar os caciques de base; 2º trazer para si a inenarrável "J"S, para compôr a tribuna com carinhas larocas e carregar os pianos; 3º cheirar o rabiosque a um naipe escolhido de notáveis retirados ou no activo, bem como aos proverbiais assessores, situados muito pertinho, vá-se lá saber como, de Lisboa. Aliás, vendo bem, em Lisboa mesmo, diria até na zona de S. Bento, no gabinete do Sócrates mesmo mesmo (não é excitante?), a cheirar-lhe mesmo o cuzinho com regularidade, com sofreguidão canina, de modo a que esta cadeia de empatia olfactiva vença distâncias e embaraços, assegure "atenções" futuras, caucione promessas presentes e salvaguarde rabos de palha passados. Um mimo. (continua)

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