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Vivaci

E no segundo dia da Criação, fui ao Vivaci. Para quem não sabe, o recém-inaugurado mega espaço comercial da Guarda. Antes de qualquer apreciação, é bom começar pelo seguinte: sempre encarei positivamente a existência de um espaço deste tipo na cidade. Por diversas razões: criação de uma nova centralidade, de que o tecido económico pode beneficiar; um novo pólo de atracção para a urbe; um gerador de auto-estima para os guardenses; finalmente, a existência de um espaço polivalente, confortável, prático, seguro, o que pode fazer a diferença numa cidade com um clima tão agreste. Todavia, sempre discordei da sua localização. Uma vez que fica "entalado" numa zona pré edificada, não respira nem deixa que a zona adjacente o faça. Já me disseram que, ao ser construído junto da zona histórica, vai ter um efeito dinamizador, ainda que indirecto, nessa área vital da cidade. Reproduzindo um pouco o que se passou no Chiado. Mas o argumento não convence. Tanto mais que esse efeito só se notará, provavelmente, numa maior afluência aos estabelecimentos de diversão nocturna. A profusão de comércio e restauração de qualidade, que deveriam ser as âncoras da zona histórica, obedece a uma lógica distinta. Neste caso, só aproveitariam um período mais alargado de funcionamento. Ora, voltando às impressões recolhidas na "nova catedral", como diz o Américo Rodrigues: agradou-me o desenho das escadas rolantes, como linhas que se entrecruzam, vistas do andar de cima e reflectidas na cúpula envidraçada; a livraria Bertrand parece ter cumprido os objectivos; os espaços âncora tradicionais estão à altura; não entrei em nenhuma sala de cinema; o parking funciona razoavelmente; o hipermercado, com um traçado incomum, i.é., mais profundo do que largo, surpreendeu-me pela enorme variedade de produtos. Por sua vez, desagradou-me a tacanhez da área da restauração: sem zonas diferenciadas, sem uns ornamentos "verdes", sem aberturas para o exterior. É certo que muitos estabelecimentos ainda não abriram, mas já deu para perceber as enormes limitações do perímetro. Outro aspecto: na saída de cima e até à Porta da Estrela, o caos é permanente e generalizado. Sem um corredor para os peões, com o espaço praticamente ocupado por carros e uma circulação ininterrupta, é penoso atravessar uns simples 200 metros. Para terminar, é desolador assistir à enorme quantidade de espaços comerciais que ainda não abriram as portas. O que acentua a sensação que toma conta do visitante: estar num bunker. Mesmo sabendo que esse receio advem de o centro estar a meio gás, temo que vá para além disso e subsista como uma marca negativa do edifício.

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