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Cogumelos e tudo

Painel dos exemplares recolhidos

A Associação Luzlinar, sediada no Feital (Trancoso), realizou ontem uma actividade chamada (ups!): "Vamos aos tortulhos, comer cogumelos e estudar macrofungos IV (passeio, almoço e conferência)". Pois o escriba esteve lá. Acaso já adivinhava que a coisa iria ser superlativa. E foi mesmo. Pena que o Outono esteja tão seco, primando os fungos pela escassez. Sobre a morfologia dos cogumelos, cuidados a ter na identificação e recolha, quais as espécies comestíveis e as razões porque Portugal é um país micófobo, remeto para aqui, aqui e aqui. A conferência, a cargo da Dra. Sílvia Neves, bióloga, teve duas qualidades fundamentais: suficientemente curta para não se tornar sonolenta; suficientemente rica em informação para estimular um conhecimento mais profundo dos fungos nas várias vertentes: características, papel desempenhado no eco-sistema, reconhecimento e classificação, utilização para fins gastronómicos, farmacêuticos ou industriais, cuidados a ter na sua recolha e preservação e, numa perspectiva antropológica, práticas e costumes associados ao longo da história. Algumas espécies são produzidas em cultura (Agaricus bisporus, Agaricus campestris, Auricularia auricula-judae, Lentinus edodes, Pleurotus ostreatus), mas a maioria dos cogumelos mais valorizados ainda não se consegue obter desta forma e por isso são recolhidos no campo e depois comercializados: Tricholoma Equestre (míscaros), Amanita caesarea (amanita dos césares), Boletus edulis (boletos ou cepes), Cantharellus cibarius, Lactarius deliciosus (sanchas), Fistulina hepatica (língua-de-boi), Macrolepiota Procera (frades ou tortulhos). De entre os mencionados na conferência, chamaram-me a atenção três espécies:
  • o extraordinário Claviceps Purpurea, ou esporão do centeio. Trata-se de um fungo que cresce nas espigas do centeio. É conhecido na Beira Alta por lenticão. Tem propriedades alucinogéneas. De um dos seus alcalóides, em 1943, extraiu Albert Hofmann o LSD. Na Idade Média originou uma doença chamada ergotismo, devido ao consumo daquele cereal.
  • o Amanita Muscaria, o mais popular dos cogumelos mágicos. A sua beleza carismática, difundida pela literatura e pelo imaginário popular, é proporcional à sua toxicidade, graças à psilocibina que contém.
  • o Amanita Caesarea, uma das espécies comestíveis mais apreciadas desde a Antiguidade.
Reservo o inesquecível almoço para o final. Uma verdadeira ode culinária em honra dos "tortulhos". Só para fazer inveja aos leitores, aqui vai a ementa.

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