Faz-me festas
No domingo estive no Festival Andanças, em Carvalhais, S. Pedro do Sul. Incluo aqui essa referência não para publicitar o meu roteiro turístico, mas como pretexto para um apontamento comparativo sobre Festas populares, agora que as pindéricas Festas da Cidade da Guarda chegaram ao fim.
Era gente nova, menos nova, gente de cá, gente de toda a parte, para quem a vida é mais do que o tracinho na lápide. Era gente a musicar, a trocar, a inventar, a amar sem limites, a dançar pelo mundo inteiro em seis palcos diferentes. Uma festa. De verão. De sempre. Organização atenta e impecável.
Passemos então às tais Festas da Cidade. Houve uma comissão das ditas: os patuscos moços de recados da Câmara, isto é, aqueles a quem os caciques deram tacho há anos ou aqueles que esperam alcançá-lo. Os outros, os boys veteranos instalados, 'tão caladinhos que nem ratos. Ora, estes maduros, apoiados pela maresia neoliberal que sopra dos lados do IPG e de algumas redacções, resolveram dar então ao povo lo que lhe gusta, isto é, assegurar um segundo mandato ao Valente. Resultado: uma festarola novo-rica, onde só faltou o foguetório. Uma completa descoordenação entre o serviço nas barracas e a organização, tendo muita gente que sair do parque logo depois de lhe ser servido o jantar, nos dias de espectáculo. O palco mal concebido, de tal modo que a plateia reservada aos vips teve que ser enchida à pressão na noite dos GNR, depois de uma observação bem a propósito do Rui Reininho. Não houve rasgo, nem capacidade para atrair outros públicos senão aqueles que iriam a qualquer coisa. Já aqui referi outras razões. E expliquei porque este modelo de festas não serve para nada, a não ser para os parolos ficarem contentinhos consigo, a Guarda ficar fora do mapa e os eternos beija-mão ganharem mais uns cobres, ou notoriedade. Mas caramba, 25.ooo visitantes, anunciados pelos jornais locais espaciais fenomenais transversais comensais... (desculpem esta deriva dadaísta) é obra! Como se chegou a esse valor? Será que puseram gente nos locais a recensear o público? O mistério estatístico permanece.
Mas embalados por estes números fictícios, apareceram uma série de comentadores clamando vitória contra os subdesenvolvidos elitistas. São os mesmos que dizem que o Estado não devia subsidiar a actividade cultural. Que os contribuintes não têm que andar a pagar os caprichos de meia dúzia de iluminados. No entanto, apoiaram entusiasticamente um acontecimento de feição claramente institucional e pago integralmente pela Câmara. Então e o divino mercado, meus senhores? Ai essa coerência, deixa muito a desejar! Esta discussão arrasta-se há muito e raramente tem sido séria. Mas como diz Tiago Mendes em "A Mão Invisível" (um blogue liberal, atente-se), num excelente post sobre a intervenção do Estado na cultura: "a aplicação da lógica de mercado a esferas onde ela deve ser importante mas não EXCLUSIVA é não só errada mas, estrategicamente - ainda que não intencionalmente - faz com que a liberalização da sociedade se atrase." Mais à frente cita Vasco Rato - outro liberal: “Em cultura, não podemos dar apenas o que o povo quer. O gosto da Estética é moldável, evoluível. Nós sabemos que não há mercado para certos fenómenos culturais: bailados, óperas, (...). O estado tem um papel essencial nalgumas áreas, entre as quais a cultural. Não para impor gostos, mas para proporcionar alternativas.” (sublinhados meus). Ficamos entendidos?
Por outro lado, na mesma imprensa anunciam-se algumas correcções para o ano que vem. O palavreado do costume. O objectivo é estampar 30 000 nas primeiras páginas. Os merceeiros adoram. Alguns vereadores também! É que números redondos ficam sempre bem! Não é tão ternurento?
*Um destes dias, tive que mostrar o BI às simpáticas girls que o pedem na recepção da Câmara. Talvez pensem que o instante de um sorriso possa comprar a minha condescendência com a ineficácia e a incompetência que me esperam lá dentro. Lamento, queridas, mas não compra.
Era gente nova, menos nova, gente de cá, gente de toda a parte, para quem a vida é mais do que o tracinho na lápide. Era gente a musicar, a trocar, a inventar, a amar sem limites, a dançar pelo mundo inteiro em seis palcos diferentes. Uma festa. De verão. De sempre. Organização atenta e impecável.
Passemos então às tais Festas da Cidade. Houve uma comissão das ditas: os patuscos moços de recados da Câmara, isto é, aqueles a quem os caciques deram tacho há anos ou aqueles que esperam alcançá-lo. Os outros, os boys veteranos instalados, 'tão caladinhos que nem ratos. Ora, estes maduros, apoiados pela maresia neoliberal que sopra dos lados do IPG e de algumas redacções, resolveram dar então ao povo lo que lhe gusta, isto é, assegurar um segundo mandato ao Valente. Resultado: uma festarola novo-rica, onde só faltou o foguetório. Uma completa descoordenação entre o serviço nas barracas e a organização, tendo muita gente que sair do parque logo depois de lhe ser servido o jantar, nos dias de espectáculo. O palco mal concebido, de tal modo que a plateia reservada aos vips teve que ser enchida à pressão na noite dos GNR, depois de uma observação bem a propósito do Rui Reininho. Não houve rasgo, nem capacidade para atrair outros públicos senão aqueles que iriam a qualquer coisa. Já aqui referi outras razões. E expliquei porque este modelo de festas não serve para nada, a não ser para os parolos ficarem contentinhos consigo, a Guarda ficar fora do mapa e os eternos beija-mão ganharem mais uns cobres, ou notoriedade. Mas caramba, 25.ooo visitantes, anunciados pelos jornais locais espaciais fenomenais transversais comensais... (desculpem esta deriva dadaísta) é obra! Como se chegou a esse valor? Será que puseram gente nos locais a recensear o público? O mistério estatístico permanece.
Mas embalados por estes números fictícios, apareceram uma série de comentadores clamando vitória contra os subdesenvolvidos elitistas. São os mesmos que dizem que o Estado não devia subsidiar a actividade cultural. Que os contribuintes não têm que andar a pagar os caprichos de meia dúzia de iluminados. No entanto, apoiaram entusiasticamente um acontecimento de feição claramente institucional e pago integralmente pela Câmara. Então e o divino mercado, meus senhores? Ai essa coerência, deixa muito a desejar! Esta discussão arrasta-se há muito e raramente tem sido séria. Mas como diz Tiago Mendes em "A Mão Invisível" (um blogue liberal, atente-se), num excelente post sobre a intervenção do Estado na cultura: "a aplicação da lógica de mercado a esferas onde ela deve ser importante mas não EXCLUSIVA é não só errada mas, estrategicamente - ainda que não intencionalmente - faz com que a liberalização da sociedade se atrase." Mais à frente cita Vasco Rato - outro liberal: “Em cultura, não podemos dar apenas o que o povo quer. O gosto da Estética é moldável, evoluível. Nós sabemos que não há mercado para certos fenómenos culturais: bailados, óperas, (...). O estado tem um papel essencial nalgumas áreas, entre as quais a cultural. Não para impor gostos, mas para proporcionar alternativas.” (sublinhados meus). Ficamos entendidos?
Por outro lado, na mesma imprensa anunciam-se algumas correcções para o ano que vem. O palavreado do costume. O objectivo é estampar 30 000 nas primeiras páginas. Os merceeiros adoram. Alguns vereadores também! É que números redondos ficam sempre bem! Não é tão ternurento?
*Um destes dias, tive que mostrar o BI às simpáticas girls que o pedem na recepção da Câmara. Talvez pensem que o instante de um sorriso possa comprar a minha condescendência com a ineficácia e a incompetência que me esperam lá dentro. Lamento, queridas, mas não compra.
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