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As portagens do nosso descontentamento

De degrau em degrau, e sem que as fraldas fossem mudadas de tempos em tempos, como lembrou a propósito Eça em "As Farpas", a política em Portugal foi ficando local de abrigo para gente desclassificada, a tender para a psicopatia, ignorante, boçal, sem princípios, sem qualificações profissionais ou cívicas. As excepções contam-se pelos dedos de uma só mão. Sei bem que lembrar certas coisas às vezes é doloroso para quem é apanhado. A ilustrá-lo, atentemos em dois exemplos da vida pública mais recente:
1º recordam-se da airosa intervenção do jesuítico Mota Amaral, aquando da sua retirada da vida parlamentar? Sem pestanejar e sem aquele seu conhecido sorriso seráfico, disse estar, na hora da despedida, "de consciência tranquila". Isto sob os rasgados aplausos (também) do PS. Repare-se que estamos a falar da mesma figura de cera que impediu que as escutas da operação "Mãos limpas" fossem utilizadas pela Comissão de Ética na sua investigação sobre o papel do 1º Ministro na gorada compra da TVI. Do mesmo que se remeteu ao silêncio a propósito do episódio dos gravadores furtados pelo deputado Ricardo Rodrigues a dois jornalistas da revista "Sábado", durante uma entrevista. Mas parece que tamanho zelo de insigne capataz valeu a pena. No final, veio a "merecida" recompensa: o estatuto senatorial encobrindo a insignificância moral.
2º Lembram-se das promessas dos candidatos apresentados na Guarda pelo PS, nas últimas legislativas? Ou, mais exactamente, do cabeça de lista Francisco Assis? Pois bem, vou recapitular. Em Setembro de 2009, a propósito de uma eventual mexida nas SCUT que servem o distrito, afirmou o candidato em entrevista à Rádio Altitude que "levantaria a voz" contra o fim das mesmas, ainda que "proposto por governo do PS". Ver aqui a notícia. Sobre o número dois, José Albano, nada se sabe. Presumindo-se que andasse a fazer contas para saber o timing exacto para saltar da AR para um lugar de nomeação política a la carte. Onde a sua irrequieta nulidade desse menos nas vistas. Quanto aos deputados eleitos pelo PSD, Carlos Peixoto e João Prata, devem ter engolido o princípio da universalidade de uma assentada, sem mastigar e fazendo o acto de contrição ao mesmo tempo. A deglutição foi certamente auxiliada por uns bons litros de Água das Pedras e uma caixa de Alka-Seltzer. Pois bem, o ex cabeça de lista e agora líder parlamentar da sua bancada teve agora um inusitado momento Chavez. Certamente por descargo de consciência, Assis emitiu uma declaração de voto no final da votação da proposta de alteração ao decreto-lei do Governo sobre portagens nas SCUT. Onde invoca as suas responsabilidades perante o círculo que o elegeu. Um gesto louvável, sem dúvida. Só que inócuo e sem qualquer efeito prático. Semelhante a uma estimável declaração retórica que tresanda a impotência. Onde é que a sua voz se "levantou" contra esta machadada fatal no desenvolvimento do interior? A sua única opção era ter votado contra a proposta. Fossem quais fossem as consequências políticas do acto. Agora, nem mil desculpas farão comover ninguém.

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