quarta-feira, 18 de julho de 2007

Se o povo gosta...

Várias sombras ponteagudas espreitavam pelas janelas. Lá fora, nem um assomo de agitação. A não ser, a espaços, ruídos secos que pareciam guinchos e detonações. Não, não é o início de um conto de Edgar Allan Poe ou um relato da chegada dos marcianos. São as barracas em construção para as "Festas da Cidade" da Guarda, plantadas desde domingo junto à minha casa. Em qualquer outra localidade onde se realizam festejos desta dimensão, os stands são colocados numa zona construída para o efeito, bem delimitada. Nela coexiste o comércio tradicional, as mostras promocionais, zonas de restauração, estruturas de apoio, zonas de diversão e um palco devidamente equipado (Vd. Feira de S. Mateus, em Viseu). Aqui não. As zonas de diversão espalham-se pela cidade, de forma errática. Os stands são dispostos pelas vias radiais do centro, entravando a mobilidade, minguando o estacionamento e tornando a vida dos moradores num inferno. Em contrapartida, no centro histórico não acontece nada. Aí sim, faria sentido o recurso a estruturas portáteis, a um tipo de animação itinerante, a um verdadeiro comércio de rua. Quanto à programação, ela fala por si: é o que o povo gosta e está tudo dito. Aliás, esse é um debate que já me cansa em particular. Mas felizmente, durante os festejos estarei bem longe, numas praias alentejanas que poderiam ser a porta de acesso ao paraíso. Devidamente acolitado, por supuesto. Pelo meio, uma escapada ao Festival de Teatro Clássico de Mérida. E lamentando a sorte das centenas de intelectuais elitistas guardenses e educadores do povo, que, neste período, não poderão fazer o mesmo.

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terça-feira, 17 de julho de 2007

Incursões

O Mondego no Covão da Ponte, ao final da tarde

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quarta-feira, 11 de julho de 2007

A censura está de volta - 2

Há poucos dias, divulguei aqui a notícia da negação do acesso público a blogues alojados no blogger, verificada na rede gerida pela Câmara Municipal da Guarda, disponível nos ciberespaços que administra. Ora, para além da natural indignação, o primeiro passo é saber se existe algum protocolo, ou algum regulamento de utilização desses espaços, a partir dos quais a Câmara possa ser responsabilizada. Mas passemos à questão de fundo. Uma entidade privada que disponibilize um serviço deste tipo tem legitimidade para, querendo, restringir o acesso a determinadas páginas, por razões de ordem concorrencial, moral, ou ideológica. Não se pode é aceitar que uma entidade pública faça o mesmo, para além das excepções referentes à exposição de menores a determinados conteúdos. E que o faça por motivos exclusivamente pessoais, confundíveis muitas vezes com a luta política. É aí que se pode encontrar o móbil para actos censórios desta gravidade: o pavor da pluralidade de opiniões, a obsessão pela verdade oficial, o emergir dos tiques autoritários, próprios de uma sociedade disciplinar, onde o contraditório e a coexistência das diferenças, ou a sua possibilidade, são convenientemente expurgadas. É o medo, o medo da transparência, da circulação das ideias, de um espaço público atento e dinâmico. É o culto do segredo, da aurea mediocritas enquanto diapasão da carreira política. Pouco interessa se o acto material que impede o acesso à blogosfera partiu de um gestor de rede, de um "jeitoso" danado para estas brincadeiras, encaixado na instituição só porque fez um "bom trabalho" na "jota", de um sibilino assessor político, da prima do "influente", quando entendeu que era boa altura para "dar uma lição a esses tipos, senão ainda descobrem como arranjei este emprego", etc. Há responsáveis políticos na Câmara. Estas gracinhas não seriam feitas, no mínimo, sem o seu conhecimento. Entre a negligência e o dolo há uma série de subtis variantes. É só escolher. A eles cabe pôr termo a esta situação e prevenir que outras semelhantes aconteçam. Não sem antes a memória lhes ser avivada, no sentido de que devem obediência à lei e à Constituição. A qual tem na defesa das liberdades - mormente de expressão e de informação - o seu eixo paradigmático. A blogosfera contém muito spam, é certo. Mas tornou-se um instrumento de conhecimento e de comunicação da web 2.0 que não se pode ignorar e muito menos silenciar. Se incomoda, então é caso para dizer: quem não deve, não teme.

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A Guarda no google earth

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Duelo à chuva

As eleições no Instituto Politécnico da Guarda tornaram-se assunto "de Estado" neste recanto de província de uma país cada vez mais provinciano. Toda a gente "importante" toma posição, com a adrenalina de quem quer apostar no cavalo certo. Há até quem faça apostas múltiplas. Os gladiadores vão tomando posição, num despique semelhante ao tradicional duelo crepuscular num qualquer Western que se preze. Acredite-se ou não, aqui a luta é mesmo pela sobrevivência. Em confronto, pois patuscos pistoleiros, do tipo sempre em pé. No activo de ambos - embora com antecedentes arrasadores - a descredibilização do IPG. Imaginemos então, por hipótese, dois personagens. O primeiro é pequeno e burguês. O eterno amanuense, às voltas com a ultrapassagem vertiginosa do princípio de Peter. Em matéria de apego ao poder, pertence à família das lapas. Só para dar uma ideia, focalizemos o Silva das Finanças, que corta as unhas à janela ao fim da tarde e vai olhando de soslaio para a janela da vizinha. O segundo pertence à sub-espécie dos self-made grunhos. Emite umas onomatopeias regularmente, segundo os jornais locais. No dia 15 de Fevereiro de 1999 foi visto a ler um livro. Ficava bem como polícia de giro em qualquer cidade guatemalteca. Ou como proprietário de um peep show. Et voilá, aqui têm o quadro completo. Pela minha parte, se tivesse que escolher, meteria atestado médico. Com artolas deste gabarito, não admira pois que o IPG se tenha tornado no que se sabe.

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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Gato por lebre

A Feira de S. João em finais dos anos 30. Foto: António Correia

Inserido na tristemente célebre estratégia festiva inspirada no lema "dar ao povo o que o povo gosta", a Câmara da Guarda brindou-nos com uma "recriação" da Feira de S. João. A ideia é boa. Mas uma produção destas deveria ser pensada em moldes completamente diferentes: desde a concepção do espaço, ao tipo de animação, à consultoria histórica (o que inclui a recolha de tradições musicais, poéticas e lúdicas associadas) à divulgação, à capacidade de mobilização dos recursos locais, parece que tudo foi pensado em cima do joelho. É bom não esquecer o significado desta feira para a cidade. Trata-se do acontecimento deste tipo mais antigo da região. Criada em 1255, foi desde cedo fundamental para a afirmação e crescimento da Guarda, a ela acorrendo milhares de pessoas. Neste caso, a ambição demonstrada não foi além do que se faz (melhor, ainda por cima) um pouco por todo o lado, sobretudo em localidades da região, ao nível da recriação histórica. Sem qualquer marca distintiva e suficientemente apelativa para atrair visitantes a nível nacional.

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Imagens do Centenário Sanatório - 2

Entrada no HSM

Guarda de honra

Trono Real no palco

Oradores no palco

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terça-feira, 3 de julho de 2007

A censura está de volta

Durante estes dias de defeso blogueiro, fiquei a saber que nos espaços públicos com acesso à internet geridos pela Câmara Municipal da Guarda, foi barrado o acesso ao blogger. Quem quiser abrir um endereço alojado naquele servidor, que contem necessariamente os sufixos blogspot.com, verá aparecer uma mensagem assinalando a restrição, subscrita pelo administrador da rede. Vamos por partes: concordo que se vedem conteúdos pornográficos ou violentos nestes locais públicos, pensando nas crianças e adolescentes. Todavia, é inaceitável que se bloqueie o acesso ao maior servidor mundial de blogues num espaço desse tipo. Este procedimento tem um nome: CENSURA. Que não aparece sob a forma regimental do agente policial de olhar atento e indicador em riste, como na China, mas como um insípido e antipático anúncio. Que de resto se encaixa perfeitamente noutros sinais preocupantes de prepotência e atropelo das liberdades fundamentais coloridos de rosa. Neste caso, cabe perguntar: de que têm medo? Segundo parece, a insólita restrição é da lavra de um sociólogo ao serviço da Câmara. Desconhece-se a escola do pensamento perfilhada por esta sumidade, mas suspeito que será a escola de... Pequim.

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Jornal Cidade Mais
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