Lembram-se de Júlio Santos, o ex-presidente da Câmara Municipal de Celorico da Beira, que renunciou ao mandato em 2002, em virtude de estar a ser investigado pelo MP, suspeito da prática de vários ilícitos? Pois foi agora condenado, em primeira instância, na pena de cinco anos e dez meses de prisão, pelos crimes de corrupção activa para acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e peculato de uso. Como pena acessória, foi-lhe ainda imposta a proibição de exercer cargos públicos durante cinco anos. O colectivo considerou provado, para além da exigência de "luvas" a empreiteiros diversos, que o ex-autarca "manifestou desde cedo apetência pelo poder, colocando-o, muitas vezes, ao serviço dos seus interesses pessoais, mormente de conteúdo patrimonial". Que incluiu a compra de um apartamento em Lisboa que colocou em nome de familiares. Segue-se uma listagem de pagamentos do "Fundo Permanente" da Câmara ao autarca, para despesas pessoais, que me abstenho de comentar, pois fala por si. O acordão refere que, só em ajudas de custo, estadias em hotéis e artigos de uso pessoal pagos a J.S., a autarquia foi lesada em cerca de 21 500 Euros. A que se juntam cerca de 220 000 Euros só em restaurantes, entre 1998 e 2001... Depois da glória de ter destronado o "dinossauro" que o antecedeu na câmara celoricense, J.S. tinha todas as condições para exercer um mandato brilhante e produtivo. Mas não. Preferiu a confrontação permanente, a divisão e a autocracia. Encarou as suas funções não como um fim, mas como um meio para as suas guerras pessoais. Para o terceiro mandato, acabou por se candidatar pelo "Partido da Terra". Era o princípio do descalabro. As condenações judiciais começavam a chegar.. A Câmara estava à beira da falência técnica. J.S. acabou por ser o seu próprio coveiro, sendo apenas lembrado por aquilo que realmente representava politicamente: nada ou muito pouco. A subserviência dos que o rodeavam, a ausência de pluralismo e de cultura democrática, foram o manto que durante tanto tempo encobriu o carácter absolutista, unipessoal, do seu magistério autárquico. Que interpretou como uma derivação enriquecida e revista de um paternalismo sinistro, de carácter feudal. Acredito que a grande maioria dos autarcas sejam sérios e capazes. É deles que Celorico e o país precisam.
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