quarta-feira, 29 de abril de 2009

Esclarecimento

Há dias perguntaram-me se o "Boca de Incêndio" era um blogue guardense. E, em acaso afirmativo, porque não insistia mais em temas locais, ou coisa que o valha. A resposta é clara: aquele não é nem nunca foi um blogue local. E não julguem que este traço genético acontece por encontrar algum demérito naqueles que o sabem ser com qualidade e pertinência. Longe disso. A prová-lo, remeto para o que escrevi no texto "Blogues da Terra", a propósito de uma polémica listagem de weblogs regionais editada no "Arrastão". Para uma melhor compreensão destas razões, leia-se também o texto seguinte sobre este assunto e ainda uma explicação breve do que, para o escriba, significa "pertencer" a determinado sítio. Uma espécie de GPS legendado com as devidas coordenadas intelectuais e ontológicas. Regressando ao tema principal do post, direi que, naquele espaço, falar-se-á sobre questões locais sempre que, por ser a Guarda o terreno mais próximo, ele confinar com os terrenos mais caros ao escriba. Ou seja, sempre que a condição de cidadão do mundo passe por ser cidadão da Guarda. Mas nunca definindo um centro, quer na forma quer nos conteúdos. Exemplificando: se por qualquer razão destaco um acontecimento artístico, cívico ou até mesmo de ordem pessoal com incidência local, tal quer dizer que essa menção é independente do local onde ocorre,. O seu interesse é universal, mas sem que seja descartado o seu significado local. Aliás, como poderão comprovar, todas as postagens com temas exclusivamente locais aí editadas são depois reunidas no blogue "Guarda Nocturna". Este sim, um espaço assumidamente local. De resto, existem títulos na blogosfera que desempenham essa função muito melhor do que eu alguma vez conseguiria. Alguns deles estão precisamente listados aqui ao lado.

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Imagens da Guarda

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

3 histórias no 25

Já quase a fechar o pano de mais um 25 de Abril, espaço ainda para três notinhas de rodapé. Uma tem abertamente a ver com o facto histórico, outra assim assim, e a restante é à vontade do freguês.

1. Temos a tal definição de Sophia de Mello Breyner sobre o socialismo: uma aristocracia para todos. Claro que me agrada. E de que maneira! Até parece que o Nietszche anda por ali a espreitar. Percebe-se onde a poetisa queria chegar. Neste ponto, parece que as grandes proclamações revolucionárias e a grande poesia vão no mesmo sentido. Até a célebre "Conspiração dos iguais", com Babeuf à frente, - um dos episódios mais obscuros, embora mais empolgantes, da revolução Francesa -, não desdenharia transportar este estandarte. Mesmo que misturado com as cabeças dos aristocratas propriamente ditos espetadas em paus. No entanto, se na definição do bem comum é imprescindível abrir um espaço para a igualdade, a superação do paradoxo do slogan em causa requer alguns cuidados de interpretação. Sobretudo tratando-se de um céptico cada vez mais distópico, como é o caso do escriba. Ou seja, aristocracia acessível a todos, sim senhor! Mas que uma preocupação de igualdade não crie, ela própria, desigualdades, distorções, injustiças. E aí é necessário introduzir um peso fundamental na balança: o mérito. Talvez o aforismo de Sophia traduza a libertação do ter, para se poder ser plenamente. Talvez. E também acredito que ela não desconhecia que esse é o início. O início de uma história onde nada está garantido. A não ser o futuro.
2. Hoje tive a suprema felicidade de assistir, no Grande Auditório do TMG, ao espectáculo com os grupos "Cramol" e "Angelite". Dois coros femininos, sendo o último de vozes búlgaras. A sessão assinalou o 4º aniversário do Teatro Municipal da Guarda e constituiu, em meu entender, o grande momento musical desta temporada. A palavra inesquecível é pouco, nestas alturas.
3. Há três meses atrás, perdi um dispositivo de memória flash, mais conhecido por pen. Na altura, bem me cansei de procurar. Até telefonemas para locais prováveis de esquecimento fiz! O caso não era para menos, pois estavam lá documentos bastante importantes e, ainda por cima, únicos. Resolvi esquecer o assunto. Hoje à tarde, quando atravessava uma rua central da cidade onde vivo, notei um objecto vagamente familiar, entalado numa ranhura entre duas pedras de calçada. No entanto, prossegui o meu trajecto. Já do outro lado da rua, com uns trocos na mão para comprar o jornal, um assomo de curiosidade insatisfeita fez-me vacilar. Voltei atrás. E pus-me a rondar. Após várias tentativas, por aproximação, e já com alguns basbaques à perna, dei novamente com a "coisa". Desta vez, observei melhor. Percebi logo o que era. Retirei então o objecto da ranhura e qual não foi o meu espanto quando percebi que, para além de ser uma pen, era de um modelo igual à que tinha perdido! Faltava o teste final: limpá-la e instalá-la numa porta USB. No trajecto até casa, ainda coloquei a hipótese de tudo aquilo ter sido fruto do acaso. Ou mesmo de existir uma espécie de "Bookcrossing" com mensagens deixadas em canetas de memória "esquecidas" na rua. Uma modalidade que eu ainda desconhecia... Mas não... Afinal era MESMO a tal pen, desaparecida em combate há três meses! E que tinha decerto deixado cair do casaco antes de entrar no quiosque dos jornais. E que graças a um Inverno sem chuva se conservou! Em suma, que bela história!

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sábado, 25 de abril de 2009

Ainda os livros

A propósito do dia mundial do livro, o TMG convidou uma série de personalidades para indicarem um dos livros da sua vida e as razões da escolha. O resultado pode ser visto, até dia 30 deste mês, no Café concerto daquele Teatro. No âmbito de mais uma edição do "Table of contents". Para quem não sabe, trata-se de uma rubrica que consiste, basicamente, numa mostra informal e temporária (duas por mês) de textos ou imagens. Os suportes são mini-expositores dispostos pelas mesas do café. A escolha do escriba foi "Os Passos em Volta", de Herberto Helder, conforme aqui é explicado. Vista a exposição na totalidade, ressalta um dado curioso: nenhum livro de um autor espanhol foi opção dos convidados. Por que será? Ou não terá passado de uma coincidência? E como explicar que isto tenha acontecido numa cidade com laços históricos com o outro lado da fronteira e onde existe um Centro de Estudos Ibéricos? Talvez estas minhas reflexões não passem de um devaneio. Seja como for, numa próxima oportunidade, terei todo o gosto em apresentar como escolha uma obra fabulosa: "A Arte da Prudência", de Baltasar Gracián. Talvez assim desfaça o enguiço...

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Boris (1997-2009)

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As velhíssimas fronteiras

No passado dia 19, decorreu na Guarda a sessão inaugural do Fórum “Novas Fronteiras". Organizada, como é sabido, pela Federação local do PS. Sob o título “Desafios para um Portugal Moderno”, uma série de convidados encontraram-se com o objectivo anunciado de "propor um espaço de debate das grandes questões da actualidade Internacional, Nacional ou Regional". O Fórum visou "construir uma rede permanente de relações entre personalidades destacadas da região". As quais, diz-se, "cimentarão em torno do debate de ideias e de oportunidades", "recuperando-se laços afectivos e culturais de algum modo perdidos no tempo." A ideia de base não era má. Cativar os sectores mais dinâmicos da sociedade civil para a política é uma forma de requalificar a vida pública. Pois. Todavia, sabem o que aconteceu realmente? A reunião estava reservada a militantes! Ou seja, cria-se a ilusão da abertura para depois se cerrar fileiras, na perspectiva da recolha das migalhas do poder; propala-se uma abrangência que redunda numa assembleia de conversos. Mais palavras para quê?

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

O compasso

Já no ano passado tinha aqui alertado: não existe na Guarda um local público onde se possa ouvir música Jazz. Apesar de existir um local de diversão nocturna cuja designação é composta pela palavra "Jazz". De resto, tirando algumas honrosas excepções, a música que passa nos bares nocturnos da cidade não passa de um conjunto de variações em torno de um alinhamento comum. Muito pouco, para tantas e variadas propostas sonoras que invadem o mercado diariamente.

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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tábua de marés (40)

"Um bando de passarinhos” (2008)
Argumento, realização, produção e montagem: Zigud
Ante-estreia, com duração de 20’
Pequeno Auditório do TMG, 24 de Março

Como já li algures, a propósito deste registo, estamos na presença de uma curta-metragem poética. A designação é absolutamente acertada, uma vez que a poesia é a matriz deste filme. Por detrás de cada frame, em cada plano, em cada sequência, existe um propósito poético. Para o qual, os textos de Américo Rodrigues, aqui ditos pelo próprio, dão o mote. A história que deu origem ao filme é conhecida: um pastor da Quinta da Taberna, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, concelho da Guarda, registou, ao longo do tempo, uma série de inscrições nas paredes da sua casa. Fazendo-o de forma aleatória, embora com um propósito cronológico, diarístico. Onde cabem acontecimentos, impressões, listas de tarefas ou simples estados de espírito. Sinais “riscados” na parede e únicos testemunhos de um tempo. Ora, esse memorando grafitado foi recolhido e recriado por Américo Rodrigues. Dando origem a um caderno da colecção “O Fio da Memória” (edição NAC, 2004), em co-autoria com Ana Leonor Silva, intitulado “As pedras escritas – O pastor escrevinhador da quinta da taberna”. Creio ser neste registo que os textos que integram o filme têm a sua origem.
A obra tem assim uma marca espácio-temporal precisa. Todavia, desenganem-se os curiosos que esperariam ver nesta curta-metragem uma simples digressão documental. Ou uma surtida voyerista, do tipo televisivo, como já se viu em aclamados equívocos do tipo bucólico-pastoril. Como já se disse, este filme encerra uma evocação poética. Uma evocação onde o enredo está ausente, embora já não a narrativa. E que tipo de narrativa? A do tempo, seria a resposta mais óbvia. Um tempo encravado num espaço físico, cujos sentidos se convulsionam e se perdem em nostalgia. Onde cabem as memórias cruzadas dos intervenientes, a sua desenvoltura na paisagem, da qual são únicos actores possíveis. Uma paisagem aqui tornada cenário. Sem manipulações forçadas, mas como espaço intemporal cuja respiração se ausculta. E cuja força, neste caso, não chega nunca a esmagar, mas antes a encher de presságios, de refracções. Uma paisagem cuja quietude não inspira estados de alma, nem digressões românticas. Ou muito menos ilustra as inscrições do pastor, ou os poemas “sonoros” de A.R., mas instala-os, simplesmente. Por sua vez, as figuras tão depressa surgem, animadas pelas memórias que relatam, como se dissolvem no som de uma flauta, numa ramagem mais espessa, ou na curva do caminho, como numa sequência espantosa na parte final. Parecendo que carregam consigo uma missão prometaica, cujas elipses a câmara se encarrega de acentuar e iluminar, mas nunca forçando uma proximidade indesejada. As aparições do pastor-escrevinhador, na primeira pessoa, são igualmente comedidas quanto baste. O desenho do personagem é feito sobretudo pelas memórias dos outros, pelos seus relatos dispersos. No entanto, percebe-se que o pastor é a figura central da obra. Todavia, aparece, digamos, nas vestes de um demiurgo, de uma imagem fotográfica soprada pelo vento, logo no início. Mas nunca o vemos, volto a frisar, como um objecto de curiosidade etnológica. E é precisamente esta elegância, o jogo permanente entre a ocultação e a luminosidade, o rigor da montagem, aquilo que torna este filme uma obra singular e enternecedora. A qual, tanto quanto sei, é a obra de estreia do autor. Duas notas finais. Gostaria de, para além dos textos, de que já falei, fazer uma menção para as eficazes paisagens sonoras criadas por César Prata. Por último, a inclusão de separadores de texto no meio do filme, se bem que graficamente interessantes, torna-os elementos perturbadores que podem induzir o espectador em erro.

Publicado no jornal "O Interior", em 2 de Abril

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sábado, 4 de abril de 2009

Imagens da Guarda

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Jornal Cidade Mais
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