terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O carro do gajo, em dia de nevão

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domingo, 14 de dezembro de 2008

Abalada

Já adivinhava. Começou a nevar. Um anacronismo, em tempo de aquecimento global. Mesmo assim, o silêncio e a piedosa grandeza do momento justificam um passeio epifânico. Experimentar o manto. Os espectros das aves. A razão sacudida. O barómetro da redenção. Olha. Pois. No photos, please!

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Omo lava mais branco

Abílio Curto, o conhecido ex-presidente da Câmara da Guarda, é agora comentador no programa radiofónico "Politicamente Incorrecto", no ar desde Novembro na Rádio Altitude. Sobre o assunto já aqui fiz uma referência abertamente crítica. Recentemente, numa das suas crónicas, lançou um esconjuro contra os bloguistas que se pronunciaram negativamente acerca do seu reaparecimento público. Como nos velhos tempos, este senhor gesticula freneticamente, faz uso de uma verbosidade de feira, continua a ser o que a demissão cívica de uma cidade o deixou ser durante demasiado tempo. Ou seja, convive mal com a crítica, com a pluralidade, com uma opinião pública esclarecida e independente, com tudo aquilo que extravase a rede clientelar do amiguismo e da vacuidade ideológica e política. O que inclui a modernidade, a transparência, uma actividade cultural regular e seus agentes, e um jornalismo independente. Para "notoriedades" de província do género, o paternalismo e o apagamento da cidadania no seu entorno são o garante da sobrevivência e protagonismo na res publica. E tornam-se elementos de um estilo que, ficámos a saber, Curto nunca irá perder. Nessa crónica, chega a ameaçar os críticos, os bloggers que publicamente denunciaram a irresponsabilidade desta rentré. O que, só por si, diz tudo. Agora cabe perguntar: perdeu Curto o direito à intervenção cívica, à opinião? Evidentemente que não. Aliás, se fosse isso que estivesse em causa, podem os leitores ter a certeza que seria eu dos primeiros a avançar em sua defesa. Como faria em relação a qualquer outro cidadão. Discordasse ou não das duas opiniões. Ou ele das minhas. A questão está na oportunidade de um comentário sobre a vida política local por alguém que perdeu a legitimidade ética para o fazer. O que significa que, do ponto de vista jornalístico, abrir-lhe esse espaço representa não só uma cedência ao sensacionalismo, como não produz qualquer tipo de contraditório produtivo, nem acrescenta nada à actual dinâmica da cidade. Curto dá palpites, exorcisa fantasmas antigos, reparte elogios, excomunga, cozinha ambições e lugares, distribui presentes, alguns deles envenenados. Sobre política a sério, nada. Sobre ideias para a cidade, idem. Sobre ideologia, é melhor nem falar. A única vantagem deste discurso é lembrar à audiência como ainda decorre, em grande parte, a luta política neste canto do país. Por outro lado, Curto dá-se ares de político jubilado, a quem tudo é permitido, pois está em tudo e já não está em nada. O que só em parte é verdade, pois parte da rede clientelar que criou acabou por lhe sobreviver. Ora, no seu anátema contra os bloguistas, com recadinhos pelo meio, Curto vem lembrar como o bom povo ainda o idolatra, ou pelo menos, está certo da sua eterna gratidão. Neste momento veio-me à memória a sua imagem de marca: o "presidente das aldeias". O que inculca outra característica no seu perfil, comum a todos os caciques: o populismo. Ou seja, o homem que faz, o que no meio de cegos, o senhor entre os vassalos, o que foge do escrutínio de uma autêntica opinião pública como o diabo da cruz. Pois Curto vem agora lembrar precisamente o "bem" que fez a tanta gente. E descobre nisso a razão para a inveja dos que o atacam. Estou a falar a sério, acreditem. Ora, será que Curto "deu" algo a alguém? Os melhoramentos e benefícios onde interveio foram actos próprios de um benemérito? Obviamente que não. Um político que exerça cargos públicos é eleito precisamente para cumprir o programa para que foi sufragado, tomar decisões sobre o bem comum na circunscrição respectiva. Utilizando recursos públicos, é claro. É fundamentalmente isso que se espera dele. O grau de satisfação dos eleitores é medido fundamentalmente através de instrumentos que tornem possível um escrutínio permanente, de que o voto é o resultado típico. É essa a sua "gratidão", ou o seu contrário. Seja como fôr, esse sentimento deveria ser reservado para um empresário, ou um filantropo. Casos em que, por razões distintas, "dão" algo de si em benefício dos outros. Em relação aos políticos, vale a saudável regra da contratualização: a avaliação do mandato de quem é eleito determina a sua continuidade no cargo. E nada mais. Naturalmente, as qualidades humanas de um político, a notoriedade do seu desempenho, terão sempre um lugar na História e no coração daqueles que apreciarem o estilo. Todavia, tudo o que extravasar esta representação colectiva, sobretudo a reivindicação do amor da populaça pelo interessado (Vd. "O Perfume", de Patrick Süskind), o apelo a uma vaga de fundo que tudo possa justificar, a exigência de um dasagravo permanente que garanta a impunidade, não deixando de ser um assunto sério, mesmo que no domínio do small talk, remete menos para a vida pública do que para a virulência de uma ferida narcísica ainda por sarar.

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tábua de marés

Ar da Guarda
Exposição colectiva de artistas do concelho da Guarda
Organização: CMG - NAC
Galeria do Paço da Cultura
Entre 17 de Novembro e 3 de Janeiro de 2009


Em Dezembro de 2004, era editado, pelos mesmos organizadores deste evento, um caderno colectivo intitulado "Ar Livro", contendo textos e imagens, e no qual também colaborei. Nessa publicação, num texto a propósito intitulado "Ares da Guarda", escreveu Eduardo Lourenço o seguinte: vendê-los, em casa, imitar como podíamos os eternos Davos-Platz dos outros, oferecê-los aos que sofriam do "mal" de um século em vias de urbanização acelerada, lavar-lhes os pulmões nesse ar ainda não poluído da nossa provincial "montanha mágica". (...) A Guarda não se converteu na cidade onde se vinha a ares. Mas tomou consciência, e a tradição dura até hoje, que os seus "ares" eram, para quem os procurava, uma aposta de vida. Precisamente: encarar, em grande medida, a Guarda como um destino espiritual, uma finisterra purificadora. Sendo o bem mais precioso - o ar – o elemento central deste conceito. E onde os objectivos imediatos, associados às virtudes desse elemento – terapêuticos, turísticos, desportivos, científicos, a ausência de ácaros, segundo me disseram - mais não seriam do que meios para esse objectivo último e que atrás mencionei.
A tentação de classificar o “Ar da Guarda” como marca registada já passou pela cabeça de muita gente. A representação é apelativa, diga-se de passagem. É claro que estamos em presença de um bem que não é escasso, até ver. O que significa que só metaforicamente se chegará à consciência, não tanto dos seus benefícios, pois esses conhecidos sobejamente, mas das suas aplicações, numa visão ampla de longo prazo. Aquilo a que chamaria “Ar da Guarda 2.0”. A imagem de marca para uma verdadeira aposta de vida. Acontece que, nesse sentido, a primeira acção pública e as subsequentes deveriam ter como suporte mais idóneo a arte, ou, mais propriamente, o manifesto artístico. E seria a sua força expressiva que teria que ser usada na linha da frente. E foi exactamente isso que foi feito. A propósito das excelsas virtudes terapêuticas da atmosfera guardense, lembro-me de uma acção conduzida há uns anos pelo NAC, numa das exposições da série "A Memória das coisas", e que consistia basicamente na criação e exibição de pequenos boiões contendo ar da Guarda. Com rotulagem criada para o efeito. Eis um feliz exemplo de arte pop, ao serviço de uma ideia com todas as condições para vingar. E que constitui o antecedente directo da exposição agora patente.
A primeira constatação é de que esta reúne artistas de várias gerações, sensibilidades e dimensão curricular. O que, desde já, me parece a aposta certa, em função dos resultados artísticos desejados. Começando pelo catálogo, tornou-se evidente que cumpriu o que lhe competia. De realçar a qualidade superlativa das fotografias de algumas das obras expostas, as quais francamente favorecem. Relativamente aos critérios seguidos na instalação das obras e sua interacção com o espaço, notei algumas falhas. A mais grave tem a ver com a arrumação das três esculturas na mesma sala. Acontece que qualquer uma delas pressupõe que sejam exibidas de forma personalizada, sem elementos externos que possas perturbar o seu desfrute. Neste caso, a notável instalação de Rui Miragaia obedece a uma lógica diversa das outras obras presentes. E, sobretudo, a iluminação intermitente diminui a percepção destas. Justificava-se, portanto, a sua mostra num espaço individualizado. Por outro lado, notei uma qualidade desigual nos trabalhos expostos. E uma fidelidade também desigual de cada artista àquilo a que habituou o público. Havendo, nalguns casos, uma linha de continuidade e noutros uma ruptura. Por outro lado, se na maioria das obras (incluindo algumas criadas especialmente para a mostra) se nota a dedicação exclusiva ao tema proposto, noutras já isso não é tão claro. O que empobrece, de alguma forma, o resultado final. Por último, e como nota informal, cabe ainda destacar, pela positiva, os trabalhos de alguns dos artistas representados: Carlos Adaixo, Teresa Oliveira, Kim Prisu e, noutro registo, José Vieira, Pedro Renca e Rui Miragaia.

Publicado no jornal "O Interior", em 4 de Dezembro

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